Nesta terça-feira (10) o bitcoin atingiu seu menor nível em um ano, chegando aos US$ 29.757,51 pela manhã, segundo dados da plataforma Refinitiv.
O valor representa uma queda de cerca de 57% do recorde histórico do ativo de US$ 68 mil, registrado em novembro de 2021. No acumulado de 10 dias do mês, a criptomoeda já acumula queda de quase 18%.
Ao longo do dia, o ativo se recuperou, subindo mais de 2%, mas ainda longe de recuperar a queda expressiva de segunda-feira (9), de mais de 10%.
Outras criptomoedas também foram atingidas: ethereum, binance, solana e cardano caíram cerca de 15% na semana passada, enquanto a dogecoin caiu 10%.
O que explica essa queda?
Segundo o especialista em investimentos Fabio Louzada, o cenário é de aversão ao risco, com três fatores sendo determinantes para as quedas no preço do ativo: “inflação nos EUA e a necessidade de subir juros mais do que o esperado pelo mercado, tensões geopolíticas entre Rússia x Ucrânia, e lockdown na China, com diminuição do crescimento econômico”.
Em relação ao movimento de recuperação desta terça-feira, Felipe Medeiros, analista e sócio da Quantzed Criptos, afirma que esse “veio junto com os demais mercados de renda variável, após parte do mercado entender que o movimento de ontem foi exagerado”.
Rússia x Ucrânia
Em relação à situação no leste europeu, para Louzada, existe um efeito cascata que está chegando no bitcoin e nas criptomoedas em geral.
A guerra na Ucrânia e as consequentes sanções impostas à Rússia afetam a cadeia de suprimentos, fazendo com que os produtos fiquem mais caros, causando uma inflação elevada no Brasil e mundo.
Essa inflação impacta especificamente os Estados Unidos, que tomou medidas combativas refletidas no aumento dos juros, o que deixa ativos mais voláteis, como as criptos, um investimento mais arriscado.
EUA
Na quarta-feira (4), o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) elevou a taxa de juros do país em 0,5 ponto percentual, a maior alta em mais de 22 anos. Com isso, ela passou a ser de 0,75% a 1% ao ano.
Apesar de as bolsas ao redor do mundo terem reagido de maneira positiva ao anúncio, especialmente depois das falas do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, darem um tom menos agressivo no combate à inflação — o Ibovespa fechou o dia com alta de 1,70%, revertendo perdas do dia — o mesmo não ocorreu com aos criptoativos.
“No curto prazo, [o preço] deve continuar caindo, pois a tendência é de novas altas de juros nos EUA e, por consequência, maior aperto monetário. Com isso, os investidores devem continuar saindo de ativos mais arriscados, como é o caso do bitcoin”, explica.
“Uma reversão da alta de juros nos EUA, ou seja, o Fed sinalizando o fim das altas, é um gatilho importante para o bitcoin voltar a subir.”
Lockdown na China
Dados divulgados na segunda-feira mostraram que o crescimento das exportações chinesas desacelerou a um dígito, nível mais fraco em quase dois anos, enquanto que as importações mal mudaram em abril.
A queda foi causada pelas medidas mais duras e amplas contra a Covid-19 no país, que afetaram a produção em fábricas e a demanda doméstica, ampliando as preocupações econômicas.
Os esforços extraordinários de Pequim para conter os maiores surtos de Covid-19 do país em dois anos pararam rodovias e portos, restringiram a atividade em dezenas de cidades, incluindo Xangai, e forçaram as empresas a suspender algumas operações.
Esse movimento acabou contribuindo para a queda do preço do bitcoin.
Luna
Além dessas três fatores, Felipe Medeiros adiciona um movimento particular no mercado cripto que pode ter contribuído para as quedas no preço do bitcoin.
O Luna Foundation Guard, empresa responsável pelo ecossistema da criptomoeda Luna, precisou vender mais de 42 mil bitcoins ao mercado na segunda-feira (9).
Isso aconteceu pela necessidade da empresa de defender sua stablecoin UST (criptomoeda pareada em dólar), que vinha sofrendo uma pressão vendedora muito forte, chegando a valer US$ 0.95.
Perspectivas
Segundo Louzada, para os preços começarem a melhorar, é necessário “uma situação mais estável no mundo.”
Também enaltece que, na história do bitcoin, “já vimos esse tipo de movimento acontecer várias vezes, e a moeda voltar a subir mais forte.”
Já para Felipe, no curto prazo, “a perspectiva é que continue caindo para testar o próximo suporte. Em US$ 28.000, nessa região, poderemos ver uma recuperação, que ainda depende do mercado americano não continuar apresentando forte correção.”
“O bitcoin e o mercado cripto em geral tem se comportado como um ativo de risco atrelado a tecnologia, e isso faz com que dependa do restante do mercado para se recuperar”, finaliza.